quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entrevista Indomada e indignado com tanta informação sem sentido (desinformação)

Estava eu um belo dia passeando pelos Blogs desse vato sítio e deparo-me com tamanha falta de informação... segue a entrevista na integra e minhas considerações:



Esta entrevista foi publicada originalmente no blog Crux Sabbati e autorizada a publicação pela entrevistada,Katy de Mattos Frisvold.



Crux Sabbati: Quais as definições que você pode nos fornecer sobre Bruxaria?

Katy de Mattos Frisvold: Bruxaria, em matérias acadêmicas como História, Antropologia e Ciência das Religiões, é o uso alegado de poderes sobrenaturais ou mágicos. Na história isto já levou muita gente a enfrentar sérios problemas, incluindo o problema mais famoso de todos, a Inquisição. Pela pequena heresia de se roubar uma hóstia para realizar uma “simpatia”, uma pessoa podia arder na fogueira. Não é incorreto, por exemplo, declarar que a parteira ou a curandeira fosse considerada uma bruxa, pois o conhecimento das ervas e seus usos foram proibidos pela Igreja, sendo este papel sancionado a uma classe científica que ainda engatinhava. Vale também mencionar as conhecidas “velhacas” que moravam nos subúrbios, na margem entre a natureza e a sociedade, entre um limite e outro, lendo a sorte nas cartas e negociando talismãs.

*** Continuo esperando a definição sobre Bruxaria, não conceituou nem através da História, e nenhuma das outras ciências citadas no início da frase. A senhora não esclareceu nada, deu um “enroleixon” legal. Parece que é irmã do seu Creisson do Casseta e Planeta. Qual a origem da palavra Bruxa (Antropologia), qual a sua região originária (Geografia e História), de que cultura (Religiosa)?
Quanto a Santa Inquisição, vamos voltar à sala de aula, se não me engano para a 5ª séria do ginásio, vamos à aula rápida - definição da Santa Inquisição
: Inquisição é o ato de inquirir, isto é, indagar, investigar, interrogar judicialmente. No caso da Santa Inquisição, significa "questionar judicialmente aqueles que, de uma forma ou de outra, se opõem aos preceitos da Igreja Católica". Esta foi criada no séc. XVII e tiveram várias delas para fins diferentes, porém, o principal dele foi sempre o da Igreja e Monarcas acusarem Judeus e Mulçumanos de heresia contra os dogmas da igreja católica para adquirir seus bens, ou seja, não eram bruxos.

Para quem quer aulas mais abrangentes seguem links confiáveis para aulas mais esclarecedoras:





Heresia, Cruzada e Inquisição na França medieval. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000


CS: Existe diferença entre Bruxaria e Feitiçaria? Estas duas coisas estão ligadas?

KMF: Embora a teoria do antropólogo E.E. Pritchard dê sustentação à diferenciação entre bruxaria e feitiçaria, esta se resume ao uso de ferramentas externas ao próprio bruxo, e ele mesmo contra-argumentou usando o fator de popularidade, o de uso comum de associação, pelo menos na Europa. Historiadores em peso discordam por encontrarem traços abundantes que apontam para bruxas que poderiam igualmente usar técnicas físicas, da mesma maneira que tentavam isto através de “pensamentos”. As razões para as acusações de bruxaria, historicamente, caiam em quatro categorias gerais:

1.     Uma pessoa que era pega no ato de feitiçaria, “positiva” ou “negativa”
2.     Pessoa bem intencionada, curandeira, que perdeu a confiança de seu cliente ou das autoridades
3.     Uma pessoa anti-social
4.    Uma pessoa que reputadamente era uma bruxa e era cercada por uma “aura estranha”

Em suma, qualquer um que sinta se encaixar nestas definições pode reclamar o título de “Bruxo” por direito, e feitiçaria, como exposto, é uma prática inerente ao título de “Bruxo”, embora não exclusiva daqueles que se chamam bruxos uma vez que existem vários outros caminhos espirituais que utilizam estas práticas, a exemplo do Voodu. Se nos fundamentarmos na história e mitologia, a Bruxaria é uma realidade poética que pertence à humanidade. Como o Nicholaj disse certa vez: “A bruxaria é tratada como uma parte importante e integrada de nossa herança como seres humanos. Dado o ritmo acelerado em que nosso mundo se torna cada vez mais cético e materialista, acabamos perdendo os valores tradicionais implícitos nos reinos invisíveis, descartados como supersticiosos.”Torna-se claro que qualquer pessoa pode reclamar o título e o caminho, e com isso se intui mudar este mundo doente. Eu suspeito muito daqueles que resistem a esta idéia protegendo este título com unhas e dentes.

Como sabemos a palavra feitiçaria vem do grego, e nada mais é que pessoas que tem conhecimento no uso de ervas e controle em estados diferentes de consciência, podendo ser usado para alterações físicas ou astrais. Uma atividade ancestral intimamete ligada ao culto à Natureza, atividades mágicas e adivinhações por exemplo. Alguém aqui percebeu que ela nunca explica o que realmente é a Bruxaria? Fala, fala, fala e não acrescenta em nada. Então, quer dizer, se a igreja falava que pessoas anti-sociais, com sardas, e mais um monte de baboseiras eram bruxas, hoje em dia eu posso reclamar meu título de bruxo se eu tiver alguma dessas definições? Rsrs
Quer dizer que se as pessoa se enquadra numa dessas premissas ela é bruxa, pessoas com “aura estranha” tá cheio aí vendendo drogas, acredito que sejam bruxas também.
Voodu pelo que tenho conhecimento em meus estudos é uma prática de origem Afro-descendente do Haiti e nada chegam perto das práticas européias de 2 mil anos atrás ou tenham ligações com os Deuses Celtas.
Um feiticeiro pode não ser Bruxo? Pode!!! Um Bruxo pode não ser feiticeiro, pode! Nem sempre quem é feiticeiro é bruxo, vejamos no candomblé, eles utilizam de práticas de feitiçaria para atingir um objetivo, isso os torna bruxos??? Nem um pouco, eles não cultuam deuses do panteão celta ou nem fazem idéias que são práticas dos “caipiras europeus”, como os romanos descrevem em suas cartas enviadas ao imperador de Roma.
Reclamar um título é um quesito delicado, afinal, se eu tenho conhecimentos em ervas e terapias posso me entitular farmacêutico ou médico? Que preparo você teve para receber esse título?
Pelo menos o que o Nicholaj falou eu concordo...


 CS: Qual é a ligação entre Bruxaria e Paganismo?

KMF: Uma idéia que tem crescido e se espalhado sem muito questionamento liga a figura da Bruxa a um obrigatório sacerdócio, ou seja, uma “Bruxa sacerdotisa de um culto Pagão ou Neopagão”. Contudo, esta ligação não encontra respaldo histórico ou mitológico até a criação da Wicca, no início da década de 50, por Gerald Gardner, que criou um híbrido capaz de abraçar tanto o ethos da Bruxaria e o ethos Neopagão.

*** Certo, então a palavra Bruxa foi criada na década de 50 por Gerald Gardner? É isso que você defende? Bem, segundo o dicionário Aurélio: Pagão de origem latina paganus, homem que mora no campo, não urbanus. Esclarecendo, são as pessoas que não moram na cidade, ou seja, os famosos caipiras. Segundo essa definição começamos a ter uma idéia de época, são pessoas da época das conquistas romanas, bem antes de Gardner nascer, ou seja, as conquistas romanas aconteceram a mais de 1000 anos antes dele nascer ou as conquistas romanas aconteceram na década de 50??? Confuso??? Nãoooo... a Senhora Bruxaria Tradicional está se contradizendo mesmo e dando um ótimo “embomeixom” em todos. E se ela defende que Gardner foi quem inventou a palavra Bruxa, ele só pode estar falando de Wicca, ou seja, ela é Wiccana... assim como 2+2 = 4.
Viu, eu disse, ela nunca fala sobre a Bruxaria! Se soubesse tanto de antropologia quanto fala, saberia que existe essa ligação sim! Numa das questões ela fala que quem mexia com ervas e morava perto do campo eram consideradas bruxas e sabemos bem a definição de Paganismo. Sem contar que já há registros da palavra Bruja antes mesmos dos romanos chegarem à Ibéria, ou seja o pathos é que a Bruxaria não pode ter vindo de outro lugar como do Cristianismo que se constitui num ethos totalmente diferente à Bruxaria.

  

CS: Você poderia falar um pouco do que é Paganismo e Neopaganismo?

KMF: O termo Paganismo originalmente designava um morador do campo, um “rústico”, em seu uso primário, e, no entanto, este termo abraçou várias outras definições, bem como a das tradições não abraâmicas nativas, que antecedem a chegada do Cristianismo na Europa. Lógico que esta é uma super-simplificação, tendo em vista que a história do termo é facilmente encontrada por aí e não vejo como poderia acrescentar mais sem perder o foco desta entrevista. O Neopaganismo, por sua vez, é a restituição ou mesmo a reconstrução destes cultos pagãos que, em algum ponto do tempo cessaram sua existência, deixando somente traços acadêmicos, literários e artísticos, sem uma linha de sucessão iniciática.

 Uhum... tenho uma pergunta!!! Existe Neo-caipira??? Não vejo meu avô, colono e agricultor vestindo roupas do restart e se entitulando neo-caipira!!! Isso é um absurdo.
Defendo que as práticas pagãs, possam ter se modificado e adaptado conforme nossa realidade foi se modificando, não vemos mais o homem do campo cortando o arroz com “cerla”, ele comprou uma máquina que faz quase todo o trabalho para ele, mas a ligação com a natureza continua. Ele continua observando a mudança climática para saber qual o melhor período para arar a terra, prepará-la e plantá-la e mais tarde colher o que plantou.



CS: Ao que você se refere como “ethos” da Bruxaria e qual é esta diferença de “ethos” com o Paganismo?

KMF: Ethos é palavra grega que agrega os valores, a ética, os hábitos e a harmonia de uma pessoa ou grupo. É o que faz a diferença entre os grupos: a identidade social. Não há como falarmos do que constituiu a figura da bruxa sem mencionarmos os rastros históricos. Uma das primeiras menções históricas que temos da bruxa é proveniente da Mesopotâmia, através dos tabletes de argila encontrados pelas escavações arqueológicas. Se formos observar o Maqlu, que é uma coleção de tabletes que reflete as crenças oficiais daquela região, as bruxas poderiam ser provenientes de qualquer camada social, e ainda que fossem, em sua maioria, estrangeiras, elas podiam também estar presentes em uma grande variedade de profissões, sendo encontradas, ainda, na profissão de exorcistas.

A “bruxaria” no Maqlu está sempre associada à “magia maléfica”, e é no épico de Enmerkar e Ensuhkesdannque vamos encontrar pela primeira vez a diferença entre a “mas mas” e a “um ma” como referência às bruxas que operam à favor ou contra o rei, o que as distinguiria como “benéficas” ou “maléficas”, é então lógico que isto já dependia do ponto de vista, fosse do rei vencedor ou do rei vencido. Este aspecto dual da bruxa pode ser encontrado, por exemplo, na oposição entre Malandanti e o Benadanti italianos, como descrito por Carlo Ginzburg[1].

Havia uma clara separação da figura da bruxa com a do sacerdócio oficial. Enquanto as bruxas claramente operavam com certos aspectos da deusaInanna (Vênus), os sacerdócios oficiais dos cultos aos deuses se encarregavam da “pureza” dos devotos frente aos deuses, combatendo, através de rituais de purificação, os efeitos dos bruxedos, considerados já naquela época, como o uso “ilegal” dos poderes divinos. Por “ilegal”, devemos entender “o que não era autorizado”, ou seja, sancionado pelos cultos estruturados a cada um dos deuses. É uma zona “cinzenta”, vamos assim dizer. Historicamente vamos encontrar a figura da bruxa ligada à necromancia e adivinhação (como a bíblica de Bruxa de Endor, por exemplo), às transformações (como Circe e Medeia), e aos feitiços de cordas, amuletos, bonecos e encantamentos dos mais variados, ou seja, não dá para desligá-la de sua característica mais proeminente: a arte da feitiçaria, de moldar a realidade através do conhecimento da natureza, da magia.

Ai, ai, parece que algúem não fez a lição de casa sobre análise do discurso francesa... Ethos, resumindo, é um sujeito que se constitui de maneira que se aproprie de um discurso preexistente, e Phatos é a "ideia" que o sujeito ou orador deseja passar, é a resposta do Ethos, basicamente é isso. Voltando ao assunto, me pergunto: Por que ela antes, não explica o que significa a palavra Maqlu? Segundo meus estudos, Maqlu ou Maklu vem da Pérsia e era uma técnica de exorcismo que visava neutralizar magia negra através do fogo, usado contra pessoas denominadas bruxas, não encontrei a o origem da palavra. Ou seja, a pessoa insiste em construir um Ethos onde a Bruxaria vem da Igreja e nunca existiu antes da existência da Santa Sé!
Vamos voltar a história, a Bruxaria sempre existiu antes da igreja e as premissas para identificar alguém como um bruxo, segundo o Martelo das Bruxas escritor por Padre Cristãos, foi uma maneira de persuadir o povo e acusar qualquer um, digo QUALQUER UM, que não esteja de acordo com os dogmas da igreja, voltamos aí para a primeira pergunte, estude novamente o que é inquisição.



CS: Você quer dizer então que um Pagão não é um Bruxo?

KMF: Não. O que quero dizer é que qualquer pessoa que se dispuser a trabalhar “bruxaria” pode ser considerada uma “Bruxa”, inclusive um pagão, no entanto o contrário não é necessariamente aplicável. Historicamente sempre houve um consenso neste sentido, jamais do contrário como hoje alguns grupos fazem, tomando o termo de forma egoísta e mostranõe do uma agenda focada no “controlar”, ao invés do “informar”, ou ainda, construindo híbridos inexplicáveis que não encontram pares em qualquer lugar do mundo. Retornando ao ponto, um Pagão é aquele devoto de um deus cujo culto é antigo, pré-cristão, que é estruturado com regras, dogmas e doutrinas. Ele não opera em uma “área cinzenta” se estiver sancionado pelo seu culto. Um Neopagão, por sua vez, é um devoto de um deus cujo culto foi em algum lugar da história, extinto, ou seja, não possui uma linha de sucessão iniciática. Durante um processo de reconstrução estes aderentes podem abrir espaço para incorporar seus anseios, práticas e ensinamentos da maneira que acham mais acertados.

*** Concordo que um Pagão pode ser Bruxo, discordo em que um Bruxo não necessariamente é um Pagão. Já estudamos a origem da palavra pagão, logo esse é uma informação válida. Regras, dogmas e doutrinas? Como já ouvimos falar, as bruxas antigas mal sabiam ler e escrever... Para ser bem chulo e com um palavriado do povo, um Pagão é um caipira (entende-se por pessoa do campo), e como podemos ser um novo-caipira que cultua um deus qualquer da história? E falar de reconstrucionismo? Está reconstruindo o que, se o próprio neo-caipira pode incorporar seus anseios de forma mais acertada?
Reconstrucionismo, como a própria palavra diz... é reconstruir de acordo com o modelo original! Se você fizer qualquer alteração, já não está reconstruindo, está construindo algo novo, sem qualquer referência na que existiu! É lógica pura, como ensinaram seus amigos gregos.



Uma característica muito visível nas reconstruções é que elas geralmente operam em uma forma de “multi-sacerdócio”, numa tentativa de ressuscitar todo um panteão que acaba falhando na especialização dos deuses, como podemos observar amplamente nos cultos pagãos originais. Esta idéia de “multi-sacerdócio” foi incorporada a uma forma específica de bruxaria (a Wicca), logo, esta obrigatoriedade sacerdotal em toda a Bruxaria não é procedente, mas uma falácia. O que fica claro em toda a história da humanidade é que o Bruxo, não importando qual é a religião vigente ou da moda, sempre operará nesta área cinzenta entre a crença religiosa e o que é proibida nela. É suficiente observar a prática das benzedeiras, que sempre gerou condenações por parte da Igreja Católica embora elas sempre se considerassem “boas cristãs”. O que aconteceu com a prática das benzedeiras foi simplesmente uma “importe” de práticas que pré-datavam o cristianismo para uma linguagem da religião oficial. É desta zona cinzenta que falo. Contudo, com a liberdade religiosa que encontramos hoje em dia, é de total escolha da Bruxa de aderir ou não à uma religião Pagã ou Neopagã, se esta escolha permite as operações nesta “zona cinzenta” ou não, ou ainda, se ela vai acatar as regras, ou não.

*** Falácia é tudo isso que eu estou lendo!



CS: Se entendermos Bruxaria desta forma, como poderia existir esta Bruxaria Tradicional, já que parece ser uma coisa estruturada?

KMF: O termo “Bruxaria Tradicional” foi cunhado pelo falecido Robert Cochrane em 1964, como uma forma de separar as práticas legadas das práticas criadas/repaginadas. Esta primeira referência surgiu no artigoWitchcraft Today, escrito para a revista Pentagram[2], e que mais tarde foi organizada no livro “The Roebuck in the Ticket, An Anthology of Robert Cochrane Witchcraft Tradition”[3], muito mais como uma forma de evitar a generalização de toda a bruxaria como se fosse unicamente a Wicca difundida por Gardner. Cabe então analisar sucintamente os termos “Bruxaria”, e “Tradicional” separadamente para que possamos entender exatamente do que se trata.

Por “Bruxaria” podemos compreender que se trata de ações que independem de religião ou localização no planeta, bastando a crença nos poderes invisíveis de deuses, espíritos, gênios, etc., que visem a transformação e/ou manipulação destas forças para alterar uma realidade, interna ou externa ao próprio operador. Seus métodos são pragmáticos, e somente as operações que realmente são eficientes são as que sobrevivem através dos tempos. É este o fator de consenso histórico, o que pode ser encontrado em estudos acadêmicos sobre a história factual da bruxaria, e que difere dos mitos dos atuais aderentes das “religiões” chamadas de “bruxas”.

Robert Cochrane se você estudar em qualquer página do Google sobre ele... para diferenciar a termologia de suas práticas, apesar de serem muito próximas das de Gardner, ele resolveu dar outro nome a sua magia cerimonial!!! Sim, magia cerimonial, se o praticante de feitiçaria está fazendo uma magia cerimonial, como poderia estar fazendo uma prática pagã, se os caipiras nem sabiam ler ou escrever para fazer algo tão regrado e dogmático??? Resposta simples e lógica: Não faziam, eles apenas observavam a natureza e faziam de forma intuitiva!



Tradição é uma expressão do ethos de um grupo ou sociedade, composto de conhecimentos acumulados, crenças, valores e costumes. Ela é proveniente do latim “traderetraditio, ou ainda traditionis”, que significa trazer, entregar, transmitir. Assim, ela transmite certo conteúdo que pode ser uma memória cultural, espiritual e material. Este conteúdo geralmente é um conjunto de idéias, recordações e símbolos que passam através de gerações. A Tradição, via de regra, é uma doutrina, uma cosmovisão e não um dogma. A partir de uma Tradição, é possível encontrar correlações com todas as outras, por mais diferentes que sejam suas origens, sem, no entanto perder a atenção os elementos que dão o contexto cultural dela, ou seja, suas similaridades e diferenças são importantes. A Tradição só não conhece fronteiras. Infelizmente em nossos dias é comum ater-se somente ao aspecto de legado, sem haver um critério específico no conteúdo ou qualidade deste legado. Portanto, quando falamos de “Bruxaria Tradicional”, estamos falando da defesa à multiplicidade das expressões tradicionais, reconhecendo os pontos em comum que todas elas possuem. Isto significa que é necessária umaperspectiva tradicional. É caminhar na circunferência de um círculo sem perder de vista o ponto, o centro, o eixo central de sua própria condição, o seu papel no mundo. O termo “Bruxaria Tradicional” não deve ser confundido como uma única “tradição da terra”. Ele é um termo que abarca estas tradições, e, portanto, um bruxo tradicional, como não encara a “bruxaria” como uma religião a que se deva converter, fica livre para estudar e se submeter a iniciações em diversos cultos específicos a deidades que encontrarem ressonância com sua própria convicção e conexão espiritual, visando acumular conhecimento o suficiente para atingir seu ponto de iluminação. É uma questão de utilidade, de se estar equipado da melhor forma para atingir seus propósitos no mundo ou além dele…

*** Existem teses sobre o uso do termo Bruxaria Tradicional baseado em Robert Crochra entretanto essa tese não se sustenta devido ao uso generalizado e anteriores aos seus escritos em língua inglesa. Autor polêmico encontrou diversos opositores ao seu trabalho; nasceu em uma família de protestantes, cuja historia pode ser comprovada oficialmente. A Bruxaria Tradicional é um termo Ibérico, em suma, BT é um amontoado ensinamento pré-cristão de um determinado povo ou região passado em frente. Simples assim. Ela tem um bom ponto de vista sobre o que seria “Tradição” porém na hora de aplicar joga tudo na lata do lixo, exatamente porque perde o “foco” no centro do círculo... Concordo que um bruxo pode acreditar no que quiser, buscar o que quiser, esta liberdade realmente existe... Entretanto, tem que tomar cuidado para que não confunda a crença que está buscando externamente com a bagagem da tradição que traz, ou pior, dizer que isso faz parte de sua tradição... Tenho uma nova definição para o que ela faz: Bruxaria Tradicional NeoMedieval...

     

CS: E qual a diferença entre Bruxaria Tradicional e Bruxaria Hereditária?

KMF: É mais simples dar um exemplo: Se você é nascido e criado basco, você terá um conjunto de valores passados pela sua família. Ele é passado pelo sangue e pela palavra. Você pode se considerar um Bruxo Hereditário. Agora se eu sou “adotada” em sua família, eu sou uma Bruxa Tradicional: sou alguém que recebeu a “palavra”, ou seja, “a transmissão/tradição”. Não é incorreto um Bruxo Hereditário se chamar de Tradicional, pois ele também carrega a “tradição”, mas é incorreto um Bruxo Tradicional dizer ser um Bruxo Hereditário, por que não houve ali transmissão sanguínea. É uma questão de reconhecimento de parentesco.

*** Creio que seja uma informação correta. Entende-se bruxaria hereditária por bruxaria familiar.

CS: Um Bruxo Tradicional pode, então, misturar elementos de vários cultos em suas práticas?

KMF: Isto é parcialmente verdadeiro. Se tenho que trabalhar um feitiço, visualizo qual seria a melhor método para alcançar minha meta. Caso a decisão seja trabalhar com Voodu Haitiano, um culto bastante feiticeiro (como poucos) no qual sou iniciada, não misturo outros elementos senão os feitiços que já existem dentro desta tradição. Ou mesmo se decido trabalhar com Kimbanda, isto será feito somente dentro daquele contexto. Logo, se vou trabalhar um feitiço rural europeu, certamente vou fazer isto dentro de um círculo mágico dedicado ao patrono da minha tradição.

Nem todo Bruxo Tradicional é iniciado em vários cultos, mesmo sabendo que nada o impede disto. Isto é uma preferência pessoal, e não obrigatória. O que chamamos de “Bruxaria Tradicional”, com base na definição original deste termo é esta visão, esta perspectiva, esta liberdade de escolher as melhores “tecnologias”, ao entendermos que estas tradições se tocam pela similaridade mitológica e prática.

*** Se você é tradicional você segue uma linha, se ficar misturando tudo vira Wicca, ponto. Um Bruxo Familiar vai passar sua tradição ao seu enteado, ele segue uma tradição.



CS: Mas onde todas estas Tradições se tocam?

KMF: É aqui que entra a importância do estudo de religiões comparadas, não só nos mitos, mas em suas formas de culto. Se nos focarmos somente na mitologia, podemos mencionar a similaridade de poderes e mitos entre o deus ferreiro Hefesto, Tubal Caim, Ogun, Vulcano, Ptah, Brahmanaspati, Tchuang-tsé, Bung, etc. Todos eles, invariavelmente, falam de uma forja que é material e também simbólica, que representa todo o processo de formação, purificação e conformação do metal, um processo alquímico externo e interno.  Ao mesmo tempo, eu não sou iniciada no culto de Ptah, e então eu jamais me atreveria em trabalhar uma petição com ele. Se tenho em mãos um feitiço onde ele figura, posso conseguir os elementos a ele consagrados através de um sacerdote de seu culto e operar em um feitiço com estes elementos. Historicamente as bruxas adoravam roubar hóstias e pedras de ara das igrejas para trabalhar seus feitiços e, até onde temos relatos, nenhuma delas teve que virar freira para isto. Desde que o Cristianismo penetrou na Europa revestindo muitos dos deuses pagãos, as práticas que lidavam com deidades também foram importadas para dentro daquele contexto. Eu realmente compreendo a finalidade deste processo de ressurreição de deuses pagãos, mas penso que enquanto os bruxos modernos estiverem muito ocupados em fazer oposição à ICAR e a todos os elementos pertencentes a ela, eles só demonstram que ainda não conseguiram discernir a completa dimensão espiritual da Bruxaria, nem mesmo a que seus próprios deuses podem fornecer.

*** Não se tocam, os povos da Europa e Ásia viviam em guerra, diz para mim, que pessoa em sã consciência vai adorar o Deus de seu inimigo, agora imagina uma tribo inteira?



CS: Bruxos Tradicionais são elitistas?

KMF: Em certo sentido poderíamos dizer que sim. Não conseguimos visualizar uma “bruxaria de massa”, desde que tradicionalmente os grupos são compostos de poucos elementos, ligados pelo “sangue” e “chamado”. Não há como expulsar uma pessoa da “família”, uma vez que ela está dentro. Aqueles que não compreendem este caráter “elitista” são justamente aqueles que enxergam bruxaria como uma espécie de “sistema” ou “ordem”, onde a possibilidade de expulsão de um membro realmente existe. Devo ainda ressaltar que nos últimos anos houve uma campanha gigantesca para associar o elitismo natural de uma família como se fosse algo esnobe. Isto está totalmente longe da realidade. Eu poderia dizer que a família “de Mattos”, para citar um exemplo, é elitista. Ali só entra os que são “de Mattos”, tanto de sangue quanto os “adotados” na família. Ninguém iria achar isto uma forma de “esnobismo”. Isto foi causado muito mais por um sentimento ruim daqueles que se sentiram de, alguma forma, excluídos, não só das “famílias” de Bruxaria Tradicional quanto de suas complicadas perspectivas, quando observadas dentro de um contexto Pagão/Neopagão ou Wiccano. Sempre houve uma tendência, até mesmo tradicional, de preservar nossas práticas – tão incompreendidas – longe dos olhos daqueles que não pertenciam à nossa família.

*** A BT é apenas seletiva, não elitista. Não queremos separar ninguém por classe social por exemplo, mas sim queremos separar aqueles que realmente quererm aprender e crescer esperitualmente dos que são apenas curiosos e querem atrapalhar.



CS: O que mudou para que você e outros Bruxos Tradicionais passassem a revelar o que antes era mantido secreto?

KMF: Eu não acho que revelei muito aqui, nada além da perspectiva interna da Arte, nem do que qualquer pessoa poderia em qualquer momento captar prestando atenção na história da Bruxaria e aprendendo a descartar os milhares de mitos que se desenvolveram nesta era de “religião fast-food”. Contudo, se hoje fiz questão de expressar isto tudo da maneira mais simplificada que pude, é porque já existem aqueles que querem institucionalizar a bruxaria, bem como a bruxaria tradicional como um todo estruturado, quasi-pagão, recheados de ideologias militaristas-salvacionistas, em defesa de valores que não correspondem nem ao mito e muito menos à realidade, com uma agenda de “controle de qualidade” que teima em desrespeitar e descaracterizar o verdadeiro significado do que é a Bruxa tradicionalmente. Com a popularização desta corrente de pensamento de bruxa-sacerdote, aumentou também o número de pessoas preocupadas em obter o sacerdócio dentro de cultos e tradições que não possuem uma sucessão iniciática tradicional. Alguns, menos escrupulosos, talvez bem intencionados, talvez desesperados e perdidos no medo do anonimato, ou ainda visando um retorno financeiro, forjaram estas linhagens do dia para a noite. Houve alguma variação no processo de estudo para montar seus sistemas e seus diferenciais, e é possível observar que alguns conseguiram montar sistemas coesos, onde elementos de bruxaria são sustentados por fontes clássicas, outros, com elementos encontrados na literatura popular americana, e alguns têm a pequena constituição, simplesmente plagiando material. É este o pequeno universo “bruxo” da era web, onde falsidades são defendidas a unhas e dentes. É triste. Como disse antes, acredito que a doutrina deva prevalecer, contrariamente às tentativas de se alimentar o dogma, quando se criam associações, federações, conselhos e igrejas.



Falando mal do que ela mesma faz... Incrível isso, percebem como ela muito mais ataca do que esclarece? Tem uma tremenda pretensão de arrumar confusão, sabem porque? Porque assim acredita que continuará na marginalidade... Ela precisa estar na marginalidade, caso contrário não conseguirá sustentar o que acredita, então ela ataca tudo que vê e quando recebe a pancada age como se a inquisição ainda estivesse ocorrendo e ela fosse a vítima da vez...



CS: E qual é o seu ganho em revelar?

KMF: Para ser sincera não vejo ganho algum com isso. Eu não dirijo nenhuma associação, federação, conselho ou igreja: ou seja, não tenho a intenção de controlar ninguém com essas informações. Nossa “família” há tempos ultrapassou os limites de membros, bem como os geográficos, e nosso “reconhecimento” é internacional. Meu marido havia publicado livros sobre tema no exterior que foram extremamente bem recebidos, e aqui já há um traduzido e outros, de temas diversos, a serem traduzidos. Por outro lado, sempre achei que a Bruxaria é um chamado do sangue, do espírito e da terra. Eu entendo que não somos os únicos apaixonados pela sabedoria da natureza, e são muitas as pessoas que chegam com o coração atribulado e a mente queimando pelas questões que alguns deixam vagar sem respostas, ou simplesmente com respostas que não correspondem com a realidade factual. Eu também vejo que existem muitas tentativas de pessoas querendo se tornar líderes usando falsas premissas e me chateia muito ver que estas falsas premissas fazem com que muita gente desista deste caminho tão maravilhoso que é a Bruxaria. Ultimamente ando tentando usar o veneno para fabricar um antídoto, ou seja, usando destas falsas premissas para indicar as premissas corretas, que encontra respaldo acadêmico (e não de copy/paste de materiais da internet), e então eu gostaria de agradecer às resistências pelas sugestões e idéias. Eu diria que revelo pela utopia, pela identificação com aqueles pouquíssimos que se dão ao trabalho de guiarem suas próprias vidas espirituais e que se recusam a fazer parte do rebanho.

*** Balela e balela... O que mais falta em todos esses conceitos são respaldos acadêmicos, históricos e sociais.



CS: Percebi que você tenta fugir do emprego da palavra Religião. Poderia dizer o porquê?

KMF: Eu não acredito que possamos ligar o que nunca esteve desligado. Se continuamos respirando, “se somos”, como estaríamos desligados do Criador – seja ele/ela o nome que se der? Eu acredito que seja muito mais uma questão de lembrar do vínculo do que vincular. Gosto muito da expressão “Tradição” porque ela engloba todos os aspectos que considero importante na jornada humana, desde que parte da gênese ao cultural que se vivencia. Mas lógico, esta é uma opinião muito pessoal, nem sempre compartilhada por meus pares.

Engraçado, não foi ela que disse lá em cima que não existe tradição? Que tudo agora é neopaganismo pois os vínculos com o passado em certo tempo foram todos quebrados? Como insiste em se contradizer!



CS: Para finalizar, gostaria de perguntar se é possível para qualquer um abrir seu próprio grupo (Clã, Cuveen) de Bruxaria Tradicional.

KMF: Sim, e sem precisar de linhagens forjadas!

Definimos os quatro pilares essenciais da Bruxaria Tradicional como segue:

1 – Uma mundovisão tradicional
2 – Sucessão horizontal linear (horizontal)
3 – Ingresso espiritual (vertical)
4 – Valores tradicionais

Para o primeiro item é necessária a completa noção do que Tradição – e aqui eu indico firmemente os escritos de René Guenón. Para o segundo, o poder deve ser passado por uma pessoa que tenha real conexão espiritual, e isto nós temos abundantemente no Brasil, na figura que se expande da benzedeira à parteira, à médium clarividente e ao curandeiro. Para o terceiro, é necessário se fazer uma conexão direta com a terra, com os espíritos conectados a ela e saber trabalhar a verticalidade, ou seja, suas ligações divinas/celestes. Os valores tradicionais são os fundamentos do “ethos” do grupo em questão, e neste caso, talvez seja necessário mencionar os nossos para exemplificar: Verdade, Honra e Ancestralidade.

É bom deixar claro que quando falo de conexão com a terra, isto implica em se “adotar” uma terra para chamar de sua. Vale a do irmão espiritual, vale o parque nacional. O importante é criar uma “relação” com os espíritos de uma terra em particular, lembrando que cada terra tem “colorações diferentes” que vão influenciar no próprio poder do Bruxo.

Agora, antes de sair por aí “abrindo” clãs, o líder e fundador deve ficar avisado de que esta é uma grande responsabilidade, e, portanto, uma análise profunda de suas motivações deve ser considerada. Um verdadeiro líder, umMagister, deve ser a “pedra fundamental” do grupo, não buscando forçar um consenso, mas modelá-lo de acordo com os valores tradicionais. A marca de um verdadeiro líder é a humildade, e sabemos quando temos o líder certo quando temos que apontá-lo, e não simplesmente engoli-lo a seco, em especial quando ele parece ser justamente aquele que precisa de maior amadurecimento espiritual. Fuja destes, e, como sempre sugiro, questione sempre!



Não era ela que dizia tudo contra o sacerdócio? E está agora ensinando a ser um líder? Qual a diferença entre um e outro? Mais uma vez se contradizendo... Isso prova como ela tenta colocar a opinião própria acima de tudo, nunca entrará em acordo com nada, apesar de concordar com tudo... Só vale o que ela diz. Sucessão horizontal linear? O que é isso? Seria a heredietariedade? Ingresso espiritual vertical??????????? Piorou! Mundovisão tradicional... Não seria o mesmo que os valores tradicionais? Como pode haver valor tradicional numa crença que descarta aquilo que não considera efetivo... E se permite agregar aquilo que lhe convém??????????????????????? Mas enfim, como sou diferente dela... Não vou ficar discutindo, afinal... Cada um com aquilo que acredita. Só desejo um pouco mais de paz para a senhorita KMF e que ela foque os valores que carrega consigo e não o ataque aos valores dos outros.



Katy de Mattos Frisvold é peregrina iniciada da Arte Tradicional em várias das manifestações nas quais ela se desdobra. Dentre as mais famosas, a Via Vera Cruz e o Lilium Umbrae Cuveen, a mais recente extensão doClan of Tubal Cain da Inglaterra. Atualmente, dedica seu tempo entre a profissão de tradutora de livros ocultistas, escrevendo esporadicamente para seu blog www.diablerie.com.br, e o dia a dia do campo. Mora em Extrema-MG com seu marido, o autor norueguês Nicholaj de Mattos Frisvold.



Bibliografia Recomendada:

Ankarloo, Bengt & Clark, Stuart (2004). Bruxaria e magia na Europa(todos os seis volumes), Editora Madras

Agrippa, Henry Cornelius (1531/2008) Três Livros de Filosofia Oculta. Editora Madras.

Cochrane, Robert & Jones, Evan John (Ed. Mike Howard). 2001. The Roebuck in the Thicket. Cappall Bann.

Cochrane, Robert & Jones, Evan John (Ed. Mike Howard). 2002. The Robert Cochrane

Frisvold, Nicholaj de Mattos (2010). Artes da Noite. Editora Rosa Vermelha

Frisvold, Nicholaj de Mattos (prev 04/2011). A Arte das Indomadas. Editora Rosa Vermelha Ginzburg, Carlo (1991). Ecstasies. Deciphering the Witches’ Sabbath. Penguin. NY

Guenón, René (1977). “A Crise no Mundo Moderno”, Editorial Vega

Hutton, Ronald (1999). The Triumph of the Moon. Oxford University Press.UK

Jackson, Nigel (1996). Masks of Misrule. Capall Bann. UK

Summers, Montague (1945). Witchcraft and Black Magic. Rider & Co.London

Sussol, Max (1995). O Livro dos Benzimentos BrasileirosDCL. SP.

Thorndike, Lynn (1929). A History of Magic and Experimental Science.
The Macmillan Walter, Philippe (2007). Christianity; The origins of a Pagan Religion. Inner Traditions. Vermont

Walker, D.P. (2000) Spiritual and Demonic Magic. Penn. US

Weyer, Johann (1577/1991). Witches, Devils and Doctors in the Renaissance. Center for Medieval and Early Renaissance Studies. Universityof New York. NY

Wilby, Emma (2005) Cunning Folk and Familiar Spirits. Sussex Academic Press. UK

[1] Vide, Ecstasies, Decifrando o Sabá das Bruxas
[2] Edição no. 2, de Novembro de 1964.
[3] Evan John Jones & Robert Cochrane, editado por Mike Howard, Capall Bann Publishing, pg 51